Essa afirmação do título do nosso post pode parecer incômoda e já provocar algum tipo de desconforto ao leitor/administrador mais ortodoxo.
Na verdade, o texto a seguir faz parte da coletânea publicada pela Revista Exame “o Melhor de Peter Drucker – A Sociedade” – onde ele, dá sua visão sobre Inovação e Empreendedorismo “Innovation and entrepreneurship, publicado em 1985”.
O texto abaixo, não reproduz o artigo como um todo, mas extrai alguns insights ainda bastante atuais apesar dos 37 anos desde sua publicação.
Instituições, sistemas e políticas acabam se perpetuando, assim como produtos, processos e serviços. Isso ocorre quer tenham cumprido ou não seus objetivos. O mecanismo ainda pode funcionar, mas os pressupostos que lhe deram forma já não são válidos, como por exemplo, ocorreu com dados demográficos que serviram de base para os planos de assistência médica e sistemas de aposentadoria em todos os países desenvolvidos nos últimos 100 anos. Então, de fato, a razão se transforma em contrassenso e os privilégios, em angústias.
Peter Drucker
Se pararmos para analisar o parágrafo acima, quase de imediato nos faz pensar, no nosso sistema de aposentadoria, que foi idealizado tomando como base uma expectativa média de vida de 48 anos na década de 1960 versus 73,8 anos encontrada no censo de 2010. O modelo imaginado era que a contribuição dos mais jovens seria suficiente para subsidiar o pagamento da aposentadoria dos mais velhos, como um conceito de pirâmide…mais gente na base e menos gente no topo da pirâmide gozando dos benefícios.
Mas como sabemos, modelos de pirâmide em geral deixam de funcionar quando a base colapsa.
Analisemos portanto como essa lógica mudou ao longo dos anos:
1- Uma maior longevidade da população, que faz com que um número maior de pessoas necessitem do benefício no topo da pirâmide por períodos mais longos (25 anos em média);
2 – Ao longo das últimas décadas houve um melhor planejamento familiar, diminuindo as taxas de natalidade, se era normal na década de 1960 uma família ter 4 filhos, a partir das décadas de 1990 essa média cai pela metade e consequentemente invertendo a lógica de mais gente entrando no mercado de trabalho e subsidiando a aposentadoria dos mais velhos;
3- Para ser ainda mais complexa a equação, as várias crises econômicas pelas quais o Brasil passou, jogou na informalidade 38 milhões de trabalhadores (equivalente a 40,6% da população ocupada no 3o trimestre de 2021), segundo o site Poder360 e que também não contribuem com a lógica da pirâmide. (https://www.poder360.com.br/economia/informalidade-volta-a-subir-pais-tem-38-mi-de-trabalhadores-sem-vinculos).
Ou seja a base da pirâmide já colapsou!
“A razão se transforma em contrassenso e os privilégios, em angústias”.
“E agora também sabemos que teorias, valores e todos os produtos de mentes e mãos humanas envelhecem e tornam-se rígidos e obsoletos, transformam-se em angústias.
Assim sendo, a inovação e o espirito empreendedor são necessários tanto na sociedade quanto na economia, nas instituições públicas tanto quanto nas empresas. É precisamente porque a inovação e o espirito empreendedor não são fenômenos que ocorrem como um todo, mas avançam “passo a passo” , um produto aqui, uma política ali, um serviço público acolá; porque não são planejados , mas voltados para oportunidades e necessidades especificas; porque são experimentos e desaparecerão se não produzirem os resultados esperados e necessários; porque, em outras palavras, são pragmáticos em vez de dogmáticos , e modestos em vez de grandiosos – que eles prometem manter qualquer sociedade, economia, indústria, serviço público ou empresa flexível e em contínua renovação…”
Peter Drucker
As eleições de 2022 são uma ótima oportunidade para refletirmos sobre como trazer inovação à nossa sociedade. Será que tudo o que já foi feito, dito, prometido e não cumprido já não está obsoleto, envelhecido e transformado em angústias? “O mecanismo ainda pode funcionar, mas os pressupostos que lhe deram forma já não são válidos!”. Como inovar se elegermos líderes que ainda acreditam nesses antigo pressupostos como absolutamente válidos?
“Nós precisamos de uma sociedade empresarial na qual a inovação e o espirito empreendedor sejam normais, estáveis e contínuos. Assim como a administração se tornou um setor específico em todas as instituições contemporâneas e o órgão integrador de nossa sociedade de organizações, a inovação e o espírito empreendedor terão de ser a atividade que sustentará nossas organizações, economia e sociedade. Isso exige que executivos em todas as organizações tornem a inovação e o espírito empreendedor uma atividade normal, contínua e diária, uma prática em seu próprio trabalho e no da organização.”
Peter Drucker
Se a afirmação acima, já funciona relativamente bem na sociedade empresarial ela está longe de ser o mote das organizações públicas, ainda cartoriais, burocráticas, inchadas, ineficientes e corporativistas.
Planejar não é a solução
“Ao se falar de políticas públicas e medidas governamentais necessárias na sociedade empresarial a primeira prioridade e definir o que funcionará – especialmente quando as políticas não-funcionais são tão populares hoje em dia.
“Planejar”, segundo a acepção habitual do termo é, na verdade, uma medida incompatível com uma sociedade e uma economia empresarial. A inovação deve, realmente ter um objetivo, e o espirito empreendedor deve ser administrado. Mas a inovação, quase que por definição, deve ser decentralizada, ad hoc, autônoma, específica e microeconômica e é melhor que comece de forma modesta, experimental e flexível. Na verdade, as oportunidades para inovar são encontradas, em sua totalidade, no desenrolar dos acontecimentos. Elas não serão encontradas nos conjuntos concretos com que o planejador lida por necessidade, mas fora deles – no inesperado, na incongruência, na diferença entre “o copo está meio cheio” e “o copo está meio vazio”, no elo fraco de um processo. Quando a divergência se torna “estatisticamente significativa” e, dessa forma, visível ao planejador, é tarde demais. Oportunidades de inovação não aparecem na tempestade, mas no leve sussurrar da brisa.”
Peter Drucker
Peter Drucker continua absolutamente atual. Suas análises observações e visão sobre o papel da inovação na sociedade nem parecem ter sidas escritas ainda na década de 1980.
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