Durante muitos anos da minha vida corporativa, trabalhei próximo das fábricas onde acontecia a manufatura dos produtos que vendíamos e por isso adquiri o hábito e o privilégio de andar pelo chão de fábrica sempre que podia.
Na verdade agradeço ao meu primeiro gestor, que quando iniciei minha carreira como engenheiro me sugeriu que todas as manhãs antes de começar qualquer tarefa, andasse pela fábrica para observar a manufatura e conversar com os funcionários, inclusive para obter feedbacks deles de como o produto poderia ser melhorado, como as instruções de montagem poderiam ser mais claras e assim por diante.
Bem, assim o fiz e realmente aprendi muito adquirindo esse hábito, que mantenho desde aquela época.
Mais tarde, descobri que essa caminhada diária dentro do processo “Lean“, chama-se “Gemba Walk” – Gemba é uma palavra japonesa que significa “lugar real” ou “onde as coisas acontecem”, portanto Gemba Walk nada mais é do que andar por onde as coisas acontecem!
Bem, dentro do conceito Lean, essa caminhada tem o propósito de identificar problemas no processo.
Um problema pode ser alguma tarefa que não agregue valor, já que tudo que não agrega valor é potencialmente um custo a ser reduzido ou mesmo uma tarefa insegura para o funcionário.
Durante a caminhada, conversar com os funcionários é fundamental, não só observar, mas também interagir em busca de melhorias no processo que venham como um feedback natural de quem mais entende daquela tarefa, de quem as executa. A interação com o funcionário deve ser feita com máximo respeito e precisa ficar claro de que não se trata de uma inspeção, mas sim de um processo de aprendizado mútuo.
O objetivo é identificar também oportunidades de melhoria, uma nova ferramenta que ajude a montagem ser mais rápida, mais segura, mais confiável, com maior qualidade e assim por diante.
Mas aprendi também que o Gemba Walk, não aplica-se somente no chão de fábrica das indústrias, em essência pode ser aplicado a qualquer área das empresas.
Pensando-se nas áreas comerciais, onde as coisas acontecem?
Essencialmente no cliente!
É lá no cliente que de fato os produtos que fabricamos ou os serviços que prestamos serão aplicados.
Portanto podemos dizer que ao visitarmos nossos clientes, estaremos no “lugar real”, onde de fato “agregamos valor” e finalmente é onde podemos aprender como melhorar nossos processos de fabricação, tempos de entrega, performance e até mesmo de custos dos nossos produtos.
No entanto e talvez como um paradoxo, a pandemia do Corona vírus nos fez ver um novo jeito de vender, onde os processos são mais digitais, com menor dependência da interação do vendedor, e mesmo as reuniões que num passado recente eram presenciais podem agora quando necessárias serem realizadas de forma virtual.
O ponto de reflexão que deixo aqui é:
Ao deixarmos de visitar nossos clientes, de praticar o Gemba Walk da área de vendas, estamos tendo uma otimização do processo de vendas (reduzindo tempos de deslocamento, custos de viagens, aumentando a quantidade de reuniões por dia…) ou uma perda da qualidade da interação e do aprendizado com relação às reais necessidades dos nossos clientes. Não estaremos perdendo a oportunidade de podermos interagir com diversos stakeholders que de fato utilizam-se das nossas soluções?
Talvez essas respostas só venham com o tempo.
As empresas que souberem encontrar o ponto de equilíbrio ideal entre continuar praticando o “Gemba walk” nos seus clientes e o novo jeito de vender serão recompensadas por seus clientes com mais pedidos e com aumento de sua fidelidade.
Fica aqui também uma dica de leitura sobre Gemba Walk. Abrangendo desde propósito e gestão até desventuras e transformações, Womack intuitivamente compartilha as ideias que representam a principal crença dos praticantes lean: que os problemas só podem ser solucionados no local onde acontece. https://www.leanshop.com.br/produto/71/caminhadas-pelo-gemba—gemba-walks.aspx
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